Jorge Coutinho poderá ser o novo Ministro da Cultura |
POR: WALTER BRITO
Ao que tudo indica, esta semana a cultura oficial de nosso país poderá ter como ministro o ator de cinema, teatro e televisão Jorge Coutinho. Presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Estado do Rio de Janeiro – SATED, com uma carreira brilhante no mundo da representação teatral, Coutinho é umas das maiores referências da afrodescendência nacional e também foi um dos fundadores do PMDB no Estado do Rio de Janeiro. Seu nome foi notícia na mídia do país nos últimos dias, principalmente nas redes sociais. A sua militância na cultura permitiu que diversas autoridades interferissem a seu favor no sentido de colocá-lo no posto mais alto da cultura oficial do Brasil. Moreira Franco, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, que já foi chefe de Coutinho quando governou o Rio de Janeiro, é um de seus apoiadores mais aguerridos. O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, também é simpático ao pleito da comunidade negra brasileira, que tem em Coutinho um grande representante na administração pública federal. Para falar sobre cultura e a indicação de Coutinho, a coluna Fogo Cerrado convidou duas importantes personalidades da área cultural de Brasília e região: o ex-secretário da Cultura de Brasília, José Ricardo Marques, e o poeta, compositor, jornalista e professor Antonio Victor.
É importante lembrar que o nosso entrevistado Ricardo Marques é empresário na área de tecnologia e, na sua gestão como secretário de Cultura do Distrito Federal, um de seus feitos foi a inauguração do Complexo Cultural da República, em 15 de dezembro de 2006. O referido complexo conta com o Museu Nacional Honestino Guimarães e a Biblioteca Leonel Brizola, tudo projetado por Oscar Niemeyer. O poeta Antonio Victor, graduado em Letras pela UnB, é professor da Secretaria de Educação do DF, tem dois livros publicados e diversas canções gravadas nos mais variados estilos musicais. Ele tem uma música inédita que poderá ser gravada pelo cantor Roberto Carlos. Trata-se da música intitulada Mulher Negra, que homenageia a mulher negra no Brasil e no mundo. Neste sentido, as mulheres que representam a negritude feminina na música de Antonio Victor são: Maju Coutinho, Glória Maria e Ruth de Souza. As citadas in memoriam são Clementina de Jesus, Chica da Silva e a prêmio Nobel da Paz, Wangari Muta Maathai.
Pedimos a Ricardo Marques para ele avaliar os rumos da cultura no Brasil. Ele de pronto respondeu: “A cultura oficial em nosso país precisa de reformas e urgentes. O presidente Temer luta incansavelmente para viabilizar as reformas da Previdência e trabalhista, o que lhe tem dado muito trabalho, e muitas polêmicas ocorreram, inclusive um quebra-quebra na Esplanada dos Ministérios. A Reforma Cultural a que me refiro é mais leve e poderá trazer dividendos ao governo Temer imediatamente. A implementação da indústria criativa, bem como a economia criativa são necessárias na modernização do Ministério da Cultura, inclusive para gerar rendas neste momento de crise. Vale ressaltar que a indústria criativa reúne dois milhões de empresas no Brasil e tem participação expressiva em nosso PIB. Desta forma, a indústria criativa cresce em torno de 15% no mundo. É esse gancho que a cultura oficial tem que pegar. Com a modernização do Ministério da Cultura, certamente o turismo vai avançar de forma extraordinária nos próximos anos, pois a cultura é o seu principal aliado. Temos que ter uma cultura com visão executiva e focada no incremento da economia. A economia criativa tem o poder de avançar, inclusive, no período de recessão. Qualquer pesquisa séria identifica o crescimento da indústria cultural em plena crise. Se tudo isso tiver gestão profissional, o governo Temer será beneficiado como poucos governos nas últimas décadas. O momento é esse”, arrematou Marques.
O poeta Antonio Victor |
O poeta Antonio Victor respondeu sobre o mesmo tema, mas preferiu focar na música que é sua praia: “Concordo com Ricardo Marques, quando disse que a cultura precisa se voltar um pouco mais para a indústria criativa, pois já deu certo em diversas partes do mundo, e no Brasil não será diferente. Na questão da música, que é minha seara, eu entendo que nunca foi fácil fazer música de qualidade em nosso país, pois os incentivos sempre ocorreram de forma limitadíssima e apenas para uma minoria. Na crise econômica e política pela qual passamos, certamente tudo ficou ainda mais difícil e não tem sido fácil a própria sobrevivência. Se as pessoas não têm dinheiro para frequentar shows e/ou comprar os produtos da arte, inevitavelmente os nossos cantores reduzirão suas turnês, cujos cachês também terão que sofrer baixa. Evidentemente, as grandes estrelas do Show Business continuarão a ganhar dinheiro, mas não como no passado. Se diminui o faturamento dos grandes nomes da música, imagine os artistas que fazem seus trabalhos de forma independente. A mídia é generosa com artistas consagrados e lançados pelas gravadoras poderosas, entretanto existem milhares de artistas em cada canto deste país que poderiam ser beneficiados pela democratização da cultura oficial. Nesse sentido, a indústria criativa – colocada de forma categórica pelo ex-secretário da Cultura de Brasília Ricardo Marques – poderá fomentar esse importante segmento da cultura nacional, do qual o artista independente faz parte. Só assim vamos valorizar efetivamente a diversidade da cultura nacional”, explicou o poeta.
Referente à indicação de Jorge Coutinho para o Ministério da Cultura, Ricardo Marques opinou: “Jorge Coutinho é um dos homens mais brilhantes da cultura nacional. Ele tem um trabalho fantástico como presidente do Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro – SATED. Além disso, Jorge é um militante aguerrido e histórico do partido de Ulisses Guimarães, o PMDB velho de guerra. Jorge Coutinho representa umas das histórias mais importantes da cultura brasileira. Eu não tenho dúvidas de que a experiência e o currículo de Coutinho na cultura certamente vão contribuir muito com o sucesso do governo Temer. Coutinho é ficha limpa e exemplo para todas as etnias e de forma especial para a negritude brasileira, que ajudou a construir o Brasil e não participa efetivamente de sua administração”, disse.
O poeta Antonio Victor disse o seguinte sobre a indicação de Coutinho para o Ministério da Cultura: “Se Coutinho assumir o Ministério da Cultura é o Brasil que ganha. Na televisão ele fez o seu trabalho com maestria e mostrou o seu talento. No cinema, seus papéis ganharam o mundo e diversos países conheceram o nosso por meio de suas fantásticas intepretações. No teatro, ao lado de Milton Gonçalves, Ruth de Sousa e outros talentos da arte de interpretar, Coutinho construiu umas das mais belas histórias que o menino negro e pobre da periferia do Rio de Janeiro poderia alcançar. O cargo de ministro da Cultura não é tão importante para Jorge Coutinho, mas para o coroamento das lutas, vitórias e conquistas de um povo que ainda não teve sua história reconhecida oficialmente. Além disso, a meu ver, no momento em que a corrupção campeia a quase totalidade geográfica da nação brasileira, eis que surge um nome limpo e vindo da classe trabalhadora, essa que leva nosso país nas costas”, arrematou o poeta.
Sobre a instabilidade do governo Temer, o ex-secretário da cultura de Brasília Ricardo Marques comentou: “Na minha opinião, um governo cai por três motivos: o primeiro, me refiro ao povo, pois ele não foi eleito diretamente pelos eleitores de nosso país, por isso dificilmente Temer será um governo com apoio popular. Os outros dois pilares são: a economia e a política. Na economia ele tem Henrique Meirelles, que é considerado um dos nomes mais importantes da economia no mundo. Ele tem o apoio do mercado e a maioria do empresariado brasileiro. No que diz respeito à questão política, o presidente Temer é muito habilidoso e tem uma relação inteligente e profícua com o Congresso Nacional. Por isso, ele ficará até o dia 31 de dezembro de 2018 e fará a transição como deve ser feita, apesar das dificuldades que se apresentam a cada momento no seu caminho”, finalizou Ricardo Marques.
Ex-secretário de Cultura de Brasília, José Ricardo Marques |
O autor da música Mulher Negra disse o seguinte sobre o governo Temer: “O povo da terra em que nasci, a cidade de Formosa-GO, distante 80 km do Palácio do Planalto, não tem nenhum orgulho do megaempresário Joesley Batista, que nasceu em nossa cidade. Ele é atualmente, embora sem moral, o cobrador-mor do presidente da República que, errônea e inexplicavelmente, o recebeu na calada da noite no Palácio do Jaburu. Não há santos nessa história, sabemos. Contudo, o Brasil passa por tanta dificuldade que tirar mais um presidente, conforme justificada vontade de muitos, desenganados por sucessivas decepções, pode custar muito mais caro para os 200 milhões de brasileiros. Entendo que a presença de Jorge Coutinho no Ministério da Cultura dará um certo fôlego de credibilidade a mais um governo que se perdeu em razão do dinheiro farto jorrado pelas torneiras da corrupção”, concluiu Antonio Victor.
Os representantes da área cultural, por meio de suas acertadas opiniões, acredito, contribuíram de forma importante com o debate referente à indicação de um negro que galgou degraus no mundo da cultura e da dignidade e está preparado para servir o Brasil no momento em que ética e honestidade são vocábulos em desuso.
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