Maju entre William Bonner e Joaquim Barbosa
Por: Walter Brito
Recentemente o jovem branco e racista de 21 anos, Dylann Storm Roof assassinou o senador negro,Clementa Pinckney e mais oito religiosos da Igreja Metodista Episcopal Africana Emanuel, na cidade de Charleston na Carolina do Sul nos EUA. A referida Igreja é uma das mais antigas da comunidade negra dos EUA. O feito do racista comoveu o mundo.
Aqui no Brasil o racismo se dá de forma silenciosa. Milhares de jovens negros são assassinados todos os anos. Entretanto, a mídia incorporou tais eventos ao costume e ao dia a dia de nosso país. Por outro lado vale ressaltar, que lá na praia de Ipanema no Rio de Janeiro, por exemplo, não tem nenhuma placa avisando que a frequência de afrodescendentes é proibida. Contudo os poucos s negros que frequentam aquele lugar charmoso são: vendedores ambulantes, artista ou algum jogador de futebol. O apartheid é semelhante ao da África do Sul antes de Mandela se tornar presidente. Apesar disso, os órgãos de comunicação não explicam o porquê da ausência de negros naquela badalada praia carioca.
A campanha racista que está sendo feita nas redes sociais contra a jornalista Maria Júlia Coutinho é uma demonstração de racismo tão forte, quanto as mais perversas manifestações ocorridas contra jornalistas negros, na própria África do Sul durante o governo Pieter Botha. Revoltado com os ataques, o jornalista mais famoso da televisão brasileira, o diretor-geral do jornal nacional William Bonner comprou a briga. Bonner defende abertamente a colega Maju, apresentadora da previsão do tempo no famoso telejornal da Globo. Ele já deve imaginar, o quanto é complexo e desgastante discutir o racismo num país que finge não ser racista, mas na verdade o racismo se dá de forma mais forte do que em países declaradamente racistas, tais como: Estados Unidos da América, Reino Unido, Austrália,Alemanha, Japão, entre outros. E mais, um profissional bem sucedido arriscar sua própria carreira, certamente deixa muita gente perplexa, mas reforça sobremaneira a causa que é nobre. Contudo, poucos compreendem a importância desta luta.
A defesa de Maju ancorada por Willian Bonner, com o apoio de seus aliados na TV Globo, por meio da campanha: “ Todos somos Maju”, é digna de ser veiculada nas principais empresas de comunicação do mundo, o que contribuirá para ensinar as pessoas a amar os diferentes. Nesse sentido, Mandela disse, certa vez: “ Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.
A consequência de odiar os diferentes se manifesta em nosso país, quando um afrodescendente ocupa uma posição de destaque. Foi assim, quando Pelé, depois de ter dado ao Brasil três Copas do Mundo, disse que os brasileiros não sabiam votar. Criticaram o Rei do futebol e afirmaram que o lugar dele era nos gramados. Enquanto isso, o filho de seu Dondinho e dona Celeste continuou a ser recebido por reis e rainhas do mundo inteiro, por todos os papas e todos os presidentes que ocuparam a Casa Branca nos EUA.
O racismo calou a voz de Wilson Simonal, com a desculpa de que ele seria dedo duro da ditadura. Tive a satisfação de hospedá-lo em minha casa por diversas vezes em Brasília, quando o intérprete de Sá Marina lutava para conseguir o seu Habeas Data no Ministério da Justiça, oportunidade em que provaria a farsa de seus algozes. Ele conseguiu provar, mas; após a sua morte! A viúva de Simonal e os dois filhos: Simoninha e Max Castro receberam o Habeas Data das mãos do então Secretário Nacional de Direitos humanos, o doutor José Gregori , que também foi Ministro da Justiça. Ainda hoje, pouca gente sabe que um dos mais completos showmans do país foi injustiçado pelo fato de ser negro . Ele era também considerado por parte da mídia, um negão exibido.
Na sua luta na defesa da Maria Júlia, Bonner ganhou um aliado de peso. Trata-se da maior personalidade pública do Brasil nos últimos três anos, o ex-presidente da Suprema Corte, o doutor Joaquim Barbosa. Ele foi o primeiro juiz a colocar os poderosos na cadeia e, logicamente tem muito para contar em suas memórias sobre o racismo no Brasil. Barbosa aposentou-se precocemente logo após ter cumprido com maestria a sua missão como relator do mensalão e presidir com muita dignidade e sabedoria o STF por dois anos. A razão de sua aposentadoria antes do tempo, segundo alguns setores da mídia foi por: “ Livre e Espontânea Pressão”.
Ao ser atacada por racistas na internet, Maju disse: “Os preconceituosos passam, mas a caravana passa soberana”. Joaquim Barbosa não perdeu tempo e disse via twitter para a jornalista global: “Adorei tua resposta Maju. Nem te conto o que se passou comigo nos 11 anos que ocupei posição de alta responsabilidade e visibilidade”.
A luta de Bonner pela Maju é justa e admirável. Ele foi para a trincheira, como se fosse um militante da causa negra. De forma elegante Bonner e a companheira de bancada Renata Vasconcelos sabem que estão enfrentando uma barra pesada, pois nos referimos ao racismo num país que nega participar desse preconceito nefasto, que coloca a humanidade em perigo. Não sabemos, se os companheiros e companheiras de Maju terão força para mantê-la no jornal nacional de segunda a sexta, mesmo com o reforço do ex-presidente da Suprema Corte Joaquim Barbosa e da jornalista Gloria Maria. Muitos dos que atacam a jornalista Maria Júlia, não admitiram que parte significativa dos afrodescendentes saísse da cozinha e fosse para a sala de visitas. Os mesmos já disseram na internet, que querem ver a Maju pelas costas e, até preferem que ela ganhe um presente de consolação. Dois deles sugeriram que a Globo lhe desse o posto de correspondente em Nova York . Um dos racistas chegou a sugerir que ela apareça no suposto novo posto, apenas duas vezes por semana. Tudo isso está acontecendo no Brasil. Acredito que tenha muitos Dylann Storm Roof por aí!
Desejo-lhe mais sucessos Maju!