Aécio evita as ruas e busca ‘tapetão’. Agripino fala em ser “bombeiro” de empreiteiras. E parlamentares que sonham com eleição a prefeito temem ser vistos como políticos que nada propõem além da intriga
por Helena Sthephanowitz publicado 01/07/2015 09:57, última modificação 01/07/2015 12:44
A parte do tucanato liderada pelo presidente do PSDB, senador Aécio Neves, sonha liderar o enfrentamento ao governo, mas seus integrantes reclamam que quando são reconhecidos em ambientes populares acabam sendo recebidos com gritos de “ladrão” e outros palavrões. Apesar dos esforços da imprensa em direcionar o noticiário contra o PT, a maioria da população que recebe a mensagem antipolítica do noticiário não faz distinção partidária, enxergando quase todos os políticos como se fossem responsáveis, de uma forma ou de outra, pelas mazelas noticiadas.
Parlamentares pré-candidatos a prefeitos estão preocupados em como enfrentar a campanha eleitoral de 2016, diante de um eleitorado que os recebe com frieza, ceticismo ou hostilidade. A falta de uma agenda parlamentar positiva piora as chances. Enquanto os atuais prefeitos que concorrerão à reeleição, ou secretários que exercem o Poder Executivo, bem ou mal, têm obras e realizações para mostrar, os parlamentares que se destacam apenas nos holofotes de CPIs têm um histórico de fracasso nas urnas quando tentam um voo mais alto para concorrer a prefeito ou a governador. A população os veem apenas como criadores de intrigas, sem utilidade pública.
O deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos mais ligados a Aécio Neves, coloca em dúvida se seu partido conseguirá faturar eleitoralmente a Operação Lava Jato, principal tema do noticiário político há um ano. “O resultado líquido nas prefeituras, nas lideranças e na população não dá para dimensionar. A população está de saco cheio com a política”, disse.
Nos bastidores tucanos circula que Aécio Neves ficou irado com as declarações da presidente Dilma sobre doações da empreiteira UTC para sua campanha, e marcou reunião com oposicionistas na terça-feira (30) para debater a crise política. Enquanto um grupo defende pautar de novo a tese do impeachment, outros advertem que os próprios tucanos precisam melhorar a comunicação com a sociedade primeiro.
Depois da reunião, e sempre atento aos holofotes generosos, Aécio procurou a imprensa e anunciou que os partidos de oposição vão entrar com representação na Procuradoria-Geral da República por crime de extorsão contra a presidente Dilma Rousseff e o então tesoureiro da sua campanha, ministro Edinho Silva.
O grupo vai também apostar em outras duas frentes para desgastar o governo: entrar com um novo pedido no Tribunal de Contas da União (TCU) contra a contabilidade do governo e acionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que a delação de Pessoa seja levada em conta no processo que já foi aberto no órgão contra a campanha da petista. Sobre o fato de Ricardo Pessoa ter denunciado que o senador tucano Aloysio Nunes recebeu R$ 500 mil, sendo R$ 300 mil em dinheiro vivo de caixa 2, Aécio não se pronunciou.
Desde o fim das eleições, Aécio Neves flertou com grupos agressivos de extrema-direita que arregimentaram público pelas redes sociais para manifestações de rua contra o governo. Mas os tucanos desejavam que esses grupos fossem coadjuvantes para assumir o protagonismo. Não foi que ocorreu. A mensagem destrambelhada foi de ódio, de pedir a volta da ditadura, discriminar minorias e destilar preconceito contra a população pobre.
Além disso tais ativistas chamaram o próprio Aécio de “arregão” por não propor o impeachment da forma como queriam. Agiram como brigões arruaceiros e elementos antissociais ao irem provocar de propósito a reunião de petistas em Salvador. Um desses ativistas, no Rio Grande do Sul, perseguiu um cidadão haitiano que trabalha honestamente como frentista em um posto de gasolina. Com cabos eleitorais como estes, os tucanos atraem mais repúdio do que adeptos.
Voltando à reunião convocada por Aécio, participaram os presidentes do PPS, Roberto Freire, do DEM, Agripino Maia, do SD, Paulinho da Força, os senadores Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, Ronaldo Caiado, líder do DEM no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), Eduardo Amorim (PSC-SE), o líder em exercício do PSDB na Câmara, Nilson Leitão, os líderes do DEM, Mendonça Filho, e do PPS, Rubens Bueno, e os deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP), Raul Jungmann (PPS-PE), Bruno Araújo, (PSDB-PE) e Arthur Maia (SD-BA). Presença majoritária dos, digamos, incendiários da oposição.
A tese do impeachment nas ruas não prosperou, segue a tentativa de tapetão nos tribunais. A representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciada por Aécio teve com base texto da revista Veja sobre a delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC, cujo teor oficial ainda é desconhecido, pois está em segredo de Justiça – pelo menos para o público, para setores da imprensa.
É óbvio que a representação é só para dar satisfação ao ativismo pró-golpe que chamou Aécio de “arregão”. Mas a ação de é útil também para desviar a atenção das doações que ele próprio recebeu da UTC em sua campanha eleitoral, e se atrapalhou em explicar o porquê, dizendo que “tudo o que tinha a oferecer para a UTC era alforria do governo do PT”.
Na Lava Jato, o antecessor de Aécio na presidência do PSDB, Sérgio Guerra, morto em março do ano passado, foi delatado pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, acusado de exigir R$ 10 milhões na forma de doação de campanha para enterrar um pedido de instalação de CPI da Petrobras em 2009. Em dezembro de 2010, no escritório da UTC, foram encontradas anotações comentando negociações de bastidores entre representantes das empreiteiras e Aécio Neves para não envolver as empresas na CPI da Petrobras de 2014. Segundo as anotações, Aécio teria dito que os senadores Mário Couto (PSDB-PA) e Álvaro Dias (PSDB-PR) estavam escalados para “fazer circo”, ou seja, criar noticiário, mas inofensivo às empreiteiras.
Agora, parece que Aécio escalou a si mesmo para “fazer circo”. E que tem gente na oposição com medo do circo pegar fogo.
O presidente de outro partido de oposição, o DEM, senador José Agripino Maia (RN), demonstrou preocupação com a sobrevivência política dos oposicionistas. Colocando-se como bombeiro, disse: “É obrigação da oposição encontrar um rumo para o país”.
Não que Agripino queira ser bombeiro para não queimar o governo. A questão é que o senador sempre representou as empreiteiras no Congresso e elas sempre financiaram suas campanhas. Ele próprio já foi sócio da EIT, uma das empreiteiras envolvidas na Lava Jato. Foi sócio da Strata Concessionária, que explora pedágios nos estados do Rio de Janeiro e Paraná junto com a Queiroz Galvão e OAS, outras duas empreiteiras envolvidas na Lava jato.
É até bem-vindo Agripino, como qualquer homem público, agir como bombeiro contra excessos da Lava Jato para que não destrua as empresas, os empregos e a cadeia produtiva nacional do setor de infraestrutura criada durante décadas. Condenar corruptos e corruptores, desde que com provas, para inocentes não pagarem por culpados, ressarcir os cofres públicos e multar as empresas, sem quebrar todas elas, são atitudes esperadas da investigação e necessárias ao combate à corrupção. O que é absurdo é destruir todo um setor econômico, como se para matar as baratas de uma casa precisasse demoli-la.
No caso do DEM, não é só empregos e empresas que podem ser extintas. A fonte de financiamento de campanhas eleitorais que elege suas bancadas e seus prefeitos também. O DEM votou a favor de manter o financiamento empresarial de campanha. Significa que seus membros temem não se elegerem se disputarem eleições em condições niveladas de custo de campanha com outros candidatos de outros partidos.
Por fim, a oposição de Agripino não vê no Congresso condições de julgar o impeachment da presidenta, se há dezenas de parlamentares investigados na Lava Jato e em outros malfeitos, enquanto não existe nada contra Dilma. O próprio Agripino é investigado na Operação Sinal Fechado por supostamente ter recebido R$ 1 milhão de empresa candidata a fazer inspeção veicular no Rio Grande do Norte. Como abrir um processo de impeachment contra a presidenta, se o Congresso Nacional não abre nem processo no Conselho de Ética e decoro parlamentar contra dezenas de parlamentares?
Por isto, o senador potiguar saiu da reunião com Aécio com discurso mais suave. “Ainda faltam argumentos jurídicos consistentes para que a ação (impeachment) não se transforme em uma peça inócua.” Por isso, explicou o senador, “a oposição está unida na busca de provas claras da prática de crime de responsabilidade por parte da chefe do Executivo”.
Em comum, Aécio e Agripino fogem das ruas e tentam fazer o que podem no golpe do tapetão do Judiciário.