Candidato reafirmou que homossexualidade é pecado e revelou pretensão de nomear mulher hétero para cuidar da causa LGBT
Criticado pelo movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) por declarar a uma emissora de TV que homossexualidade é pecado, Marcelo Crivella (PRB) - senador, bispo da Igreja Universal e candidato ao governo do Rio de Janeiro - tentou apagar o princípio de incêndio convidando a comunidade gay carioca para um almoço na última sexta-feira (1º), no centro do Rio. Mas ao invés de fazer as pazes com o grupo de eleitores, Crivella não apenas reafirmou sua opinião, como se negou a assinar um termo de compromisso oferecido pela comunidade.
O almoço, na Associação Comercial, durou aproximadamente uma hora e tirou de casa dez integrantes da equipe de campanha de Crivella, quatro militantes gays do PRB e seis membros do Grupo Iguais, comunidade LGBT de Cabo Frio, cidade a 200 quilômetros da capital.
Enquanto os convidados comiam, Crivella se explicava. Ele disse que sua fala foi editada pela emissora e que, se eleito, irá governar para todos, "sem discriminação". Reafirmou, no entanto, que, enquanto evangélico, acredita que a orientação sexual de gays é um "pecado" e que continuaria tratando o assunto nesses termos em suas homilias.
Questionado por supostamente dificultar a tramitação do Projeto de Lei Complementar que criminaliza a homofobia (PLC 122), o candidato se comprometeu a votar favoravelmente desde que a criminalização de pastores que critiquem a homossexualidade em seus templos saia do texto. Diante da sinalização, o Grupo Iguais entregou a Crivella um termo de compromisso com políticas estaduais de proteção aos homossexuais. Crivella leu, se recusou a assinar e entregou o papel a uma integrante da campanha, que prometeu "avaliar".
O texto pede que o governo do Estado realize, em 2015, a segunda Conferência Estadual LGBT, sugere a implementação de um plano que incentive a cidadania da comunidade, além de recomendar ao candidato seu comprometimento com o Estado laico. "Percorremos 200 quilômetros para saírmos do Rio sem nada palpável. Palavras o vento leva, papel assinado é compromisso feito e dá para cobrar no futuro", lamenta o presidente da Grupo Iguais, Rodolpho Campbell.
A comunidade também não entendeu porque Crivella prometeu nomear, em um possível governo, um pastor para cuidar de questões evangélicas, um negro para combater o preconceito racial e uma mulher heterossexual para defender a causa gay. "Uma mulher heterossexual não me representava. Ela não pode avaliar o que é bom ou não para o nosso segmento."
O que pensam os concorrentes?
Campbell afirma que, apesar das contradições, Crivella é o único candidato evangélico que tenta mudar sua figura de "fundamentalista homofóbico". Quando os quatro candidatos foram questionados pelo Blog GLBT do Dia se pretendiam manter o programa "Rio Sem Homofobia", o outro candidato evangélico na disputa, Anthony Garotinho (PR), não enviou resposta.
Crivella foi sucinto: "Vou continuar com o programa", resumiu. Assim como Garotinho, o petista Lindberg Farias preferiu o silêncio. "É surpreendente que um candidato petista não se manifeste sobre o assunto. Não combina com as tradições do partido", acredita o ativista. Como esperado, o candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão (PMDB) se comprometeu com o programa criado por seu partido e prometeu "ampliar o projeto para todo o Estado".
Para Campbell, a eleição deste ano vai discutir esse assunto como em nenhuma outra, e, por isso, é preciso saber a opinião de quem pretende "governar para todos". “Pagamos impostos, também precisamos de políticas que garantam a nossa cidadania.”
Fonte: iG